Pra que(m) serve o teu conhecimento?

 

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Brasil
13 a 16 de maio de 2019


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APRESENTAÇÃO
PROGRAMAÇÃO
INSCRIÇÃO
APRESENTAÇÃO DE TRABALHO
INFRAESTRUTURA E FINANCIAMENTO
ATIVIDADES
CULTURAIS
ORGANIZAÇÃO
E APOIO
CONTATO 

 

Apresentação

Os avanços da ciência e da tecnologia e as novas descobertas que influenciam a vida social dos povos deveriam estar em consonância com a melhoria de vidas daqueles que com sua força de trabalho garantem a sobrevivência humana. No entanto, no mundo capitalista, estas novas descobertas são capturadas para a sua própria reprodução, usando os avanços científicos e tecnológicos para aumentar a exploração de trabalhadoras e trabalhadores.

Onde a pós-graduação se insere neste contexto? A pergunta que intitula o encontro "Pra que(m) serve o teu conhecimento?” nos remete à discussão sobre a utilização do capital daquilo que produzimos com nossas pesquisas e quais são os mecanismos criados para que de dentro de nossos cursos sejam estabelecidas lógicas que garantam este trágico resultado.

Na história de resistência da América Latina as universidades sempre cumpriram um papel determinante nas lutas em defesa da educação pública, gratuita e laica e, por conseguinte, na defesa de direitos do conjunto da sociedade. A comunidade científica e acadêmica, historicamente, teve peso importante nos debates mais importantes da sociedade. No entanto, sua ação por vezes é contraditória. O movimento estudantil, em geral, é o motor das lutas, dos questionamentos a ordem capitalista e conta com o apoio da resistência de parte importante dos trabalhadores (docentes e técnicos). No entanto, a comunidade científica, aquela que atua na preservação do seu status quo, quase sempre representando os interesses do capital, contribui para reificar a hegemonia cultural e política das elites de poder que determinam o que é ciência e a hierarquização entre pesquisadores e pesquisados através de pesquisas que geralmente não estão a favor dos interesses da maioria da população. Este mecanismo de dominação cria e reproduz dentro dos cursos e pesquisas formas de organização que abortam o debate sobre o papel do capital na vida humana. Ao determinar regras para a pesquisa e pesquisadores cria-se um funcionamento interno dos cursos que prima pela meritocracia baseada na hierarquia pré-determinada entre as ciências.

Esta forma de pensar a produção científica intensifica o individualismo gerando um forte clima de competição e, por vezes, de constrangimento entre os pesquisadores nas instituições de ensino superior de nosso continente. O cotidiano de trabalho dos(as) pós-graduandos(as), docentes e pesquisadores nas instituições de ensino superior tem sido orientado por valores centrados na produtividade, na assim chamada “inovação” (intrinsecamente voltada para o mercado), na prestação de serviços e na hierarquia dos diferentes campos do saber. O produtivismo, voltado às necessidades da reprodução do capital e não na superação da dependência econômica e cultural de nossos países, se expressa no incentivo à produção científica em massa e em seu aumento quantitativo em detrimento da qualidade, da relevância e da função social do conhecimento produzido. Este cenário se impõe no mundo acadêmico e configura uma tentativa de esvaziamento do caráter socialmente relevante e crítico das pesquisas realizadas nas universidades latino-americanas.

Diante de uma difícil conjuntura, sob a qual avança o ideário neoliberal e a consequente mercantilização do conhecimento, associado ao conservadorismo e ao cerceamento das liberdades de pensamento e de expressão, é decisivo para a comunidade acadêmica das universidades da América Latina estreitar relações em busca de uma organização em torno do fortalecimento de uma rede de apoio político em defesa da Universidade Pública, Gratuita e Laica e que esta produza conhecimento e resistência em busca da superação dos problemas aos quais os povos estão submetidos em um mundo em que o lucro e a propriedade privada é mais importante que a vida.

Em busca de dar passos nesta direção, este primeiro encontro pretende provocar um debate que busque respostas para as seguintes questões: Para que e para quem se faz pesquisa? Quem pode se apropriar do conhecimento produzido e obter ganhos? Que relação têm nossos projetos com o setor público, o setor privado e a população em geral? Quem acessa aos cargos no sistema científico? Existem filtros de gênero, idade, raça e/ou classe social? Que tipo de relações sociais se criam entre os membros do sistema de Ciência e Tecnologia (concorrência, solidariedade, colaboração)? De que forma os intelectuais e pesquisadores influenciam as correntes de opiniões majoritárias de nossas sociedades?
Por esta razão, nós pesquisadores, estudantes e trabalhadores da América Latina e do Caribe que trabalhamos com ensino, pesquisa e/ou extensão nas universidades latino-americanas cientes da  permanente transformação do mundo que vivemos, queremos dedicar nossos esforços para a construção de um conhecimento que dialogue com os desafios da realidade que vivemos.

Chamamos a comunidade acadêmica da pós-graduação das universidades da América Latina e Caribe à organização do Encontro que possa gerar uma posterior articulação permanente de forma plural, ampla e coletiva, entendendo a necessidade de avançar no conjunto dos debates propostos.

Objetivos

O encontro tem como objetivo fortalecer os laços institucionais, acadêmicos e políticos entre estudantes e pesquisadores que atuam na pós-graduação, frente à atual conjuntura de aprofundamento da crise na educação e provável avanço qualitativo dos ataques à universidade pública no Brasil e na América Latina. Entendemos que é urgente a construção de um espaço plural de crítica, de formulação e amadurecimento de um horizonte comum para a produção de uma ciência e tecnologia autônomas e comprometidas com a realidade político-social dos territórios da América Latina e Caribe. Portanto, propomos:

1) Criar um dispositivo de acompanhamento das políticas voltadas para a educação e ciência nas universidades públicas na América Latina e Caribe, que envolva a participação dos estudantes/pesquisadores e que seja capaz de denunciar o projeto de desmonte e de privatização das instituições públicas em curso;
2) Discutir o Marco Legal de Ciência e Tecnologia (Lei 13.243/16- Brasil-) e seus análogos nos diversos países da América Latina, no âmbito da função social da ciência e da pesquisa realizada nas universidades;
3) Realizar um balanço crítico do processo crescente de imposição da lógica produtivista à produção de conhecimento e de precarização das condições de pesquisa, ensino e extensão na pós-graduação;
4) Socializar experiências e construir uma rede entre organizações e coletivos de estudantes e professores que atue na pós-graduação nos diferentes países da América Latina e Caribe;
5) Criar campanhas internacionais que garantam articulação em defesa da educação e das Universidades públicas;
6) Promover a criação de redes de colaboração entre pesquisadores latino-americanos.